Wednesday, August 29, 2007

o primeiro do caminho para o último

em qualquer período de férias, cada dia que passa representa menos um dia no período delineado por leis, regulamentos, acordos de empresa, contratos, afazeres ou, simplesmente, como no meu caso, pelo cumprimento de obrigações naturais a que me encontro adstrito.
transportando as férias para aquilo a que chamaram vida (vitae (gen, loc, or dat sing fem, or non or voc plur fem) cada dia que passa é menos um dia na vida de cada um nestas férias concedidas pelo mistério que é a morte, senhora má, de quem ninguém quer ouvir falar, e que muitas vezes aparece sem bater à porta, sem avisar. uma espécie de vargeira. a este propósito, dizem os antigos que quando uma vargeira (ou mosca) sobrevoa a cama de um doente, é sempre mau sinal.
deixemos os antigos.
há que aproveitar o melhor possível cada hora, minuto, segundo, décimo de segundo, centésimo de segundo ou, como nos cronómetros da fórmula 1, milésimo de segundo, até que chegue a velhice, prenúncio da chegada da senhora má, visto que velho é aquela condição de vida que ninguém gosta de ouvir falar, mas a que todos aspiram chegar.
até aos 18 anos, marco legal imposto não se sabe bem por quem, a vida de cada um, em regra, assume contornos metafísicos de eternidade, como se os dias não passassem e as noites se pegassem aos dias. antes disso, em muitos casos, temos aulas de filosofia, que nos ajudam a perder a inocência e, amiúde, lições de vida que nos ajudam a encarar o tempo que falta de férias, com uma outra atitude. tirar um curso para ser alguém (ou o que quer que isso seja), ouve-se. tira-se o curso e começa-se a trabalhar. constitui-se família, desmembra-se a família, volta-se a constituir, volta-se a desmembrar e num ápice chegamos à meia-idade, brocardo inútil mas que funciona como aviso de que algo pior está para acontecer, uma espécie de marca no calendário pré-definido? que cada um de nós tem, como se um computador gigante tivesse um outlook, com reminders, com tarefas, e com um fim à vista.
hoje, o calendário do meu outlook avisa-me, com uma crueldade implacável, que as férias caminham para o fim.
tenho para mim que o aniversário de uma pessoa, o ritual das prendas, os cumprimentos cínicos dos que nos rodeiam, servem de agenda portátil que apita invaravelmente todos os anos, no mesmo dia.
por isso, não gosto de aniversários.